domingo, 1 de julho de 2012

CRIME DA TOALHA AZUL: "HOMEM DE OURO" ESTAVA EM MOTEL NO DIA DA CHACINA




Ela ainda era uma menina. Aos 15 anos a garota se apaixonou por um homem bem mais velho. Ela não sabia, mas ele era simplesmente um dos “Homens de Ouro” da Polícia Civil da época. Menos de dois meses depois de alguns encontros escondidos, onde só rolavam beijos e abraços, os dois resolveram dar uma fugidinha e foram parar por dois dias em um motel. Ela, que nunca sequer foi ouvida pela Polícia e Justiça, que também nunca souberam de sua exitência, conta que teve que passar por momentos muitos tristes ao ver o seu homem preso, acusado de cometer um crime que não cometeu sem poder, sequer abrir a boca. “No dia do crime nós estávamos juntos em um motel”, afirma a protagonista de um silêncio sepulcral. Silêncio forçado para não virar “presunto” nas mãos dos “tubarões”. Ela e o homem amado.
Quase 30 anos depois, a ex-namorada de um dos nove acusados e condenados no “Crime da Toalha Azul”, onde sete pessoas foram executadas, na maior chacina de Cuiabá de todos os tempos, a menina agora mulher com quase 45 anos, mesmo assim ainda treme ao falar no assunto. Para falar com a reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News, ela exigiu que seu nome não fosse citado, muito menos suas iniciais, e principalmente seu endereço, profissão e local de trabalho.
A menina só passou dois dias a sós com o homem amado, mas seus destinos ficaram entrelaçados para sempre, mesmo sem nunca mais se verem. Assustada e ainda menina, a garota teve que sair de Cuiabá por alguns anos, mas antes foi alertada para nunca abrir a boca caso fosse chamada pela Polícia e pela Justiça.
A menina afirma sem medo de errar que não sabe e nunca soube por que o namorado foi acusado, mas garante, sem medo de errar que no dia 28 de outubro de 1984 ela e o policial civil Lauri San Martin da Paixão, o “Peninha”, na época apontado como um dos "Homens de Ouro"  estavam em um motel de Cuiabá.
“Não. Ele não matou ninguém, pelo menos nesses dois dias em que nós estivemos juntos. Lembro bem porque isso ficou marcado até hoje em minha memória. Fomos para o motel por volta das 12 horas do dia 28. Ficamos lá sem sair para nada, por mais de 48 horas. Só saímos depois das 14 horas do dia 30 de outubro de 1984. Pronto. Não vou mais falar nada sobre este assunto. Nunca mais”, prometeu a mulher misteriosa.
Sete pessoas foram vítimas do “Crime da Toalha Azul", que aconteceu em 29 de outubro de 1984. As vítimas foram Minamar Leite da Costa, Adelson Luiz de Carvalho Delson Pereira Araújo, João Batista Zaccoro e duas mulheres cujos corpos nunca foram identificados. Todos os corpos estavam amarrados com tiras de toalhas de cor azul pelos pés e pelas mãos para trás e com mais de cinco perfurações de tiros na cabeça em cada um dos corpos.
As vítimas estavam em dois veículos: um Gol táxi e uma Brasília. As vítimas foram sequestradas quando passavam em uma barreira montada pela Polícia Civil onde hoje funciona o Posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Trevo do Lagarto, em Várzea Grande (Grande Cuiabá).
AS DESOVAS – Duas vítimas foram encontradas num matagal na Comunidade do “Parizinho”. Outras duas vítimas foram “desovadas” na BR-070 rodovia de acesso a Cáceres, ainda no município de Várzea Grande. As outras três vítimas foram jogadas na estrada do distrito de Nossa Senhora da Guia, na zona rural de Cuiabá.
NOVE POLICIAIS - Os acusados, presos e condenados a penas entre 40 e 45 anos de prisão em regime fechado, foram: Etalívio Viegas e Nelson Siqueira. Presos, eles fugiram e foram julgados à revelia. Nunca foram capturados.
Sérgio Rogério Borges fugiu do então Presídio Pascoal Ramos  - hoje Penitenciária Central do Estado (PCE). Roberto Magalhães Pinto e Agnaldo Godoy fugiram quando cumpriam  pena em regime semi-aberto. Lauri San Martin da Paixão, Osvaldo Ferreira dos Santos, Moacir Roberto Tenuta cumpriram pena integral antes do regime semi-aberto e hoje para o aberto.
Ezio Guimarães Santiago morreu envenenado na prisão em janeiro de 1991. Agnaldo morreu em Campo Grande (MS). Etalívio Viegas foi assassinado em Cuiabá. Não há registro sobre Nelson Siqueira e Sérgio Borges, que fugiram antes de serem presos e condenados a 45 anos de prisão cada um.
A reportagem passou dois dias procurando Lauri San Martin, o "Peninha",  o então "Homem de Ouro" da Polícia Civil, mas não o localizou em alguns endereços indicados. "Peninha" sempre jurou inocência. Com mais de 60 anos, doente e bastante debilitado, o "Homem de Ouro" teria sofrido pelo menos dois derrames e hoje estaria se movimentando em uma cadeira de rodas.
José Ribamar Trindade
Redação 24 Horas News

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